terça-feira, 27 de maio de 2014

UMA INDÚSTRIA COM HISTÓRIA


Real Fábrica do Juncal
Fundada em 1770 por José Rodrigues da Silva e Sousa, sob a proteção do Marquês de Pombal, fabricava louça, jarras de altar e azulejo. Dirigida pelo fundador, que é autor dos azulejos das igrejas do Juncal, em Porto de Mós, e dos Milagres, em Leiria, seria administrada, mais tarde, por José Luís Fernandes da Fonseca, que substituiria a decoração clássica e erudita pela denominada “maneira do Juncal”, mais simples nas formas e na decoração. Filomena Martins, licenciada em História, explica ainda que a importância que a fábrica adquiriu levou o fundador a solicitar autorização à rainha D. Maria I para usar as Armas Reais por cima da porta da fábrica, em 1782, o que veio a suceder dois anos depois. Destruída durante as Invasões Francesas, foi reconstruída em 1811 por José Ro- drigues, que estabeleceu, mais tarde, sociedade com José Luís Fernandes, que a passou a administrar após a sua morte, em 1924. Filomena Martins diz que, em 1837, a Real Fábrica do Juncal, continuava a figurar nas estatísticas como a única fábrica de louça branca do distrito. A empresa pertenceu ainda a mais duas gerações da família: Bernardino da Fonseca e, mais tarde, ao seu filho José Calado da Fonseca, que viria a encerrá-la em 1876 para se dedicar à agricultura.

Fábrica de Louça José dos Reis
O comerciante de louça José dos Reis fundou a primeira fábrica de cerâmica de Alcobaça, em 1875. Oriundo de Coimbra, terá procurado Alcobaça com o objectivo de produzir faiança para mercados que, de outra forma, não poderia abastecer, devido à distância, conta Jorge Pereira de Sampaio, director do Mosteiro de Alcobaça e mestre e doutor em História da Cerâmica Portuguesa. Fabricava louça pintada e estampilhada em barro branco decorada com paisagens com casarios e árvores ou flores pintadas a preto, azul ou cor-de-rosa. Em 1900, foi adquirida por Manuel da Bernarda Junior, construtor civil, e deu origem à Raul da Bernarda & Filhos.

Raul da Bernarda & Filhos
Nos primeiros tempos, a empresa fabricou manilhas, azulejos de revestimento, produtos que Manuel da Bernarda usava na sua actividade de construtor, lê-se na “Gazeta das Caldas”. Mais tarde, acabaria por ficar a cargo do irmão, Raul da Bernarda. Jorge Pereira de Sampaio, especialista em cerâmica portuguesa, diz que a Raul da Bernarda e a Olaria de Alcobaça acabariam por criar um estilo de louça artística de Alcobaça, em que o azul era a cor predominante. Acrescenta ainda que houve vários operários que saíram da Raul da Bernarda para criar outras fábricas, como a Pereira & Lopes, Elias & Paiva, Vestal, Pombo & Almeida Ribeiro ou Pedros.

Olaria de Alcobaça
Silvino da Bernarda, António Vieira Natividade e Joaquim Vieira Natividade fundam a Olaria de Alco- baça, em 1927. “Inovam no processo produtivo, criando peças inspiradas na cerâmica portuguesa dos séculos XVII, XVIII e XIX”, explica Jorge Pereira de Sampaio. Como motivos decorativos eram utilizadas quadras, de inspiração tipicamente coimbrã (ratinhos), e figuras humanas. A principal matéria-prima era o barro dos Capuchos que, após a cozedura, apresentava um aspecto rosado. Mais tarde, foi substituído por pasta branca. De um modo geral, a cor predominante era o azul, sobretudo nos modelos de influência seiscentista. Encerrou em 1984.

Museu da Cerâmica perpetua memórias desde o séc. XIX
Recentemente inaugurado, o Museu de Cerâmica de Alcobaça apresenta cerca de 250 peças, desde 1875 à actualidade, encontrando-se acessível em português, espanhol, francês, inglês e alemão. Jorge Pereira de Sampaio, especialista em cerâmica, diz que este espólio representa parte de uma das mais importantes colecções privadas de cerâmica portuguesa, desde o séc. XVIII à actualidade, constituída por cerca de 1.400 peças. “Além da exposição inicial, temos exposições temporárias e a peça do mês”, explica. Quem tiver interesse em conhecer as peças de cerâmica que integram a colecção Pereira de Sampaio, colecionadas ao longo de cerca de 60 anos pelos seus pais, Maria do Céu e Luís, pode fazê-lo gratuitamente, embora as visitas sejam por marcação. A família Pereira de Sampaio disponibiliza ainda residências artísticas e científicas, numa casa anexa ao museu.


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