segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O preço da pressa



Em 1971 uma viagem por transportes públicos entre Arcos de Valdevez e a estação de comboios de Santa Apolónia em Lisboa, demorava aproximadamente 14 horas. O percurso, por mim percorrido varias vezes, iniciava se em Santa Apolónia por volta das 2300 horas. Após serem arrumadas as malas no compartimento de bagagem, verificar que todos os passageiros estavam correctamente sentados nos seus lugares, o cobrador de bilhetes apitava os eu assobio para dar sinal ao maquinista para fechar as portas do comboio e dar inicio a primeira etapa da viajem ferroviária em direcção ao Entroncamento.
No Entroncamento, comboios precedentes de varias localidades, preparavam-se para receber passageiros oriundos de Lisboa, que aí iriam dar inicio á segunda etapa ferroviária da sua viagem. No meu caso, era apenas uma espera de cerca de vinte minutos, ate que os passageiros que o seu destino era outro que não o Porto, mudavam para outro comboio.
Depois de concluídas as transferências, o comboio cujo destino era o Porto, dava inicio a etapa mais longa da minha viagem.
Cerca das 0600 horas o comboio chegava finalmente á estação ferroviária de campanha, no Porto.
Desta vez, o comboio em que eu viajava atingia o seu destino final, aqui, recolhia a minha pequena mala e transferia-me para um comboio que fazia a carreira ferroviária entre Porto e Braga.
Mesmo sem querer, forçosamente recuava uns anos valentes no tempo, ao entrar no comboio com bancos e carroçarias construídas todas em madeira e uma locomotiva a vapor construída no século dezanove. A velocidade desta locomotiva, em comparação com as eléctricas e a gasóleo, em circulação para outros destinos, era como uma tartaruga a fazer uma corrida com uma lebre.
Depois das caldeiras de agua da locomotiva atingirem o ponto ideal, o maquinista, soltava duas apita delas do apito a vapor e dava inicio ao “pouca terra, pouca terra, chu chu” característico destes comboios.
Este comboio transitava a uma velocidade tão reduzida que alguns dos passageiros das carruagens dianteiras, saíam, apanhavam uvas, que eram abundantes nesta região, e conseguiam re-entrar no comboio, numa das carruagens traseiras.
Finalmente, cerca das 0930 horas, o meu percurso ferroviário tinha o seu termo na estação ferroviária de Braga. O transporte para chegar a Arcos de Valdevez (meu destino final) era um autocarro antigo, de cores verde claro com faixas de um verde mais escuro e letras em preto, descrevendo o nome da empresa, “SALVADOR ALVES PEREIRA”.
Depois de uma espera de cerca de trinta e cinco minutos, o autocarro partia, direcção Arcos, a chegada era cerca das 1230 horas, o que punha termo a uma viagem que durava cerca de catorze horas.
Hoje em dia, das varias alternativas de transportes disponíveis para fazer este percurso, a mais favorita é a viagem de automóvel, que para os mais atrevidos ao volante, conseguem concluir em, quatro horas, ou menos.
No período 1970-1997, os óbitos resultantes de acidentes de transito de veículos de motor registaram um acréscimo de 145,3%, e esta é mesmo a principal causa de morte para os indevidos com idades entre os 15 e os 29 anos.
Será assim que queremos pagar o preço da pressa?

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